Como foi a seletiva para as olimpíadas internacionais de astronomia na Barra do Piraí?

Se você já leu o pequeno texto "Sobre mim e o blog" deve saber que estudo no IFCE - Campus Fortaleza e que sou um lunático (ou melhor, apaixonado pela Lua e também por astronomia). E, se acompanha o blog, também sabe que fui um dos selecionados para a seletiva presencial para as olimpíadas internacionais de astronomia. Bom, neste texto, vou explicar como foi a experiência na Barra do Piraí e explicar o passo a passo até ser selecionado para essa fase. Confere aí:

Primeiramente, para ir para a fase na Barra do Piraí, você faz a Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) que acontece todo ano em meados de maio. Quem tira nota superior a 7,00 nessa olimpíada, é selecionado para a seletiva virtual que acontece entre setembro e dezembro. Então, você faz três provas virtuais, cada uma em até 2 horas e em dias diferentes (aos domingos). Terminadas essas provas, a organização da OBA vê uma nota de corte e faz uma lista de selecionados para a fase presencial das seletivas para as olimpíadas internacionais de astronomia.

Das escolas públicas do Ceará, em 2020, foram selecionados 4 alunos do Instituto Federal do Ceará - Campus Fortaleza (eu, o Edmilson Monteiro, o Pedro Henrique e o Samuel Lima) e 1 aluno do Adauto Bezerra, uma instituição estadual (Bismark Mesquita). Após a notícia de que tínhamos sido aprovados, começou uma correria para conseguirmos recursos para pagar o boleto da inscrição (que os organizadores pedem para a participação de cada aluno) e para as passagens aéreas. Aí fizemos uma vaquinha na internet e, com a ajuda de uma galera muito legal, conseguimos uma pagar alguns boletos, comprar algumas passagens e pagar o hostel onde ficamos o final de semana. Além disso, o IFCE e a SEDUC também nos ajudaram.

Da esquerda para a direita: Edmilson (@ed_rodrigues03), Samuel (@llima2206), Heliomárzio Moreira (@heliomarzio), eu (@lucasfrbr) e Pedro Henrique (@pedro01010000). Os @ são todos do Instagram.

Fora o esforço para conseguirmos dinheiro para as despesas, também nos esforçamos muito para aprender o máximo possível para realizarmos boas provas na Barra do Piraí. Então, com treinamentos na Seara da Ciência (UFC) e no Antares - Sede Jardins conseguimos aprimorar o nosso conhecimento em astronomia e astrofísica. Nessa jornada de aprendizado, alguns professores foram essenciais, como o Raul Teixeira e o Heliomárzio Moreira. Tanto o Heli como o Raul nos proporcionaram aulas incríveis e foi com eles que eu consegui muitas referências bibliográficas para meus estudos domiciliares. Ainda não posso deixar de mencionar o prof. Ednardo Rodrigues que contribuiu dando dicas e todo o suporte necessário na Universidade Federal do Ceará (UFC). Outro muito importante foi o Paulo Otávio, planetarista no Planetário Rubens de Azevedo, que nos preparou desde da OBA (em maio) para essas competições, além de disponibilizar o planetário para treinamentos e estudos Agora, vamos ao que mais interessa: como foi a seletiva na Barra do Piraí, Rio de Janeiro?

Eu e o Bismark (@bismark.10) chegamos no Rio no sábado, 29, pela manhã. O restante do grupo chegou no domingo, 1 de março. Todos ficamos hospedados em um hostel no bairro Botafogo. E, ainda no domingo, fomos conhecer o Observatório do Valongo (foi bem legal, recomendo). Viajamos para o Hotel Fazenda Ribeirão (localizado na Barra do Piraí, que fica a cerca de 120 km do Rio de Janeiro) na segunda, 2, durante a manhã. Chegamos lá já à tarde. Então, descansamos um pouco e fomos para o credenciamento, jantamos e participamos da abertura (que contou com uma palestra do Prof. Dr. Reinaldo de Carvalho, presidente da Sociedade Astronômica Brasileira). Após tudo isso, já era hora de dormir e se organizar para o outro dia.

Já na terça, 3, tivemos um treinamento de planetário, a prova teórica P1 e a prova de planetário. Após essas provas com questões bem cansativas, já estávamos muito desgastados e só restava dormir para amanhecermos prontos para mais um dia. Na quarta, 4, tivemos a prova de carta celeste e a prova teórica P2. E, na quinta, 5, tivemos uma palestra do Prof. Dr. Reinaldo de Lima, do IAG-USP, no encerramento, sobre física de altas energias.

Palestra sobre física de altas energias

E, após a seletiva presencial na Barra do Piraí, já são as olimpíadas internacionais de astronomia? Infelizmente as coisas não são tão simples assim. Para a fase da Barra foram cerca de 200 alunos, desse número são selecionados por volta de 40 jovens astrônomos, através dos resultados de lá. Só então eles são convidados a participar de treinamentos em Vinhedo, São Paulo, onde são feitas mais provas. Daí, sim, selecionam 5 alunos para a IOAA¹ e outros 5 para a OLAA².

Além disso, ainda sobre a hospedagem na Barra do Piraí: como estávamos em um hotel fazenda, tínhamos que caminhar bastante para nos deslocarmos dos quartos até as provas. Alerto, para quem for em algum ano, para que tenham cuidado se estiver chovendo, pois lá há caminhos um tanto perigosos. Uma pessoa (que talvez tenha sido eu) escorregou em um lodo e caiu, passando o outro dia cheio de dores. Mas hoje essa pessoa passa bem e sobreviveu a toda essa maratona de provas. Além disso, nunca vá para os locais de provas em cima da hora, sempre vá com um bom tempo de antecedência, pois, na maioria das vezes, é uma caminhadinha boa. Em relação às provas, o nível é alto mesmo, até porque estão selecionando alunos para competir internacionalmente. Então, estude muito, não espere nada fácil! Quando você for competir internacionalmente, o nível será alto.

Para quem já está estudando para essa fase, é importante ter um bom conhecimento de cartas celestes, reconhecimento de céu em planetários (e em céu aberto), além de muita habilidade com matemática, física e astronomia. A leitura de Astronomia & Astrofísica, do S. O. Kepler e Maria de Fátima Oliveira Saraiva, é fundamental. Também dê uma olhada no Guia de Estudos do NOIC, lá tem muitos links, apostilas e livros que te ajudarão a ter melhores resultados em todas essas provas (tanto nas virtuais quanto nas presenciais; e até mesmo na OBA).

Após ter toda essa experiência, posso dizer que aprendi muito com pessoas incríveis. Hoje tenho mais conhecimentos em astronomia do que tinha em 2019 graças ao suporte e material que todos nos deram aqui no Ceará. Não posso deixar de agradecer a todos que contribuíram com a nossa vaquinha; à minha família; aos professores do Instituto Federal do Ceará - Campus Fortaleza (que nos ajudaram muito, nos apoiando até mesmo com aulas voltadas à astronomia e iniciações científicas); à professora Márcia Begalli (que nos recepcionou e nos mostrou o Rio de Janeiro); ao IFCE e à Secretaria de Educação do Ceará (SEDUC). Também tenho que falar da Prefeitura de Fortaleza que, devido a uma burocracia desnecessária, nos impossibilitou de ter a concessão das passagens aéreas por meio da Coordenadoria da Juventude. Muito obrigado, Prefeitura de Fortaleza. Claro que a carta convite, que continha nossos nomes, não bastava, não é mesmo?

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¹IOAA: International Olympiad on Astronomy and Astrophysics (Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica em português)
²OLAA: Olimpíada Latinoamericana de Astronomía y Astronáutica (Olimpíada Latinoamericana de Astronomia e Astronáutica em português)
Espero que tenha gostado. No meu Instagram (@lucasfrbr) tem mais fotos da viagem :)

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Até o próximo domingo e boa semana a todxs!
#astronomia #ciencia #OBA #olimpiadas