domingo, 2 de fevereiro de 2020

Her (Ela) e O Lagosta e as relações interpessoais de que tratam

As distopias são local de encontro de diversos autores e diretores de cinema. Em Her (ou Ela, em português, se preferir) e O Lagosta não é diferente. Os filmes, à maneira de cada um, abordam relacionamentos distópicos em realidades fictícias. A melancolia e os problemas conjugais estão presentes em ambos, além, é claro, da dificuldade de encontrar uma boa relação de seus respectivos protagonistas. 


Her trata da vida melancólica de um escritor de cartas, Theodore, um morador da bela Los Angeles, que se apaixona pelo novo sistema operacional do seu computador, chamada de Samantha. Logo no início do projeto, quando o diretor e roteirista, Spike Jonze, anunciou o projeto à imprensa, o drama já foi alvo de uma ampla discussão. Alguns defendiam e outros ridicularizavam a proposta de Jonze. O roteiro rendeu até o Oscar de Melhor Roteiro Original de 2014.

Já O Lagosta que também tem melancolia de relacionamentos distópicos marcante, trata da vida de David que vive uma paixão proibida em um mundo que quem é solteiro é enviado para um hotel luxuoso para encontrar um par. Caso não encontre, a pessoa é transformada em um animal de sua preferência e é solta na floresta. No entanto, o protagonista acaba se envolvendo em um romance fora da hospedaria, o que é totalmente proibido.  Na direção do grego Yorgos Lanthimos, o telespectador é o responsável por encontrar um sentido para a história meio à tamanha subjetividade do roteiro. Não foi à toa que ele foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original de 2017.

Ambas as longas metragens tratam de realidades distópicas. Apesar de Her parecer mais próxima dos nossos dias de hoje, pois trata da relação absurda de um homem com a tecnologia de última geração, O Lagosta não deixa a desejar. Aquele filme até se aproxima dos distópicos episódios da série da Netflix Black Mirror, que levam as inovações tecnológicas ao ponto em que não nos fazem tão bem. Enquanto o outro se aproxima mais de ficções do tipo Onde Está Segunda?.

Em se tratando especificamente das relações interpessoais de Her, Theodore apaixona-se tão profundamente pelo sistema operacional (SO) do seu computador que tem, de maneira indireta, seja imaginando ou com a ajuda de terceiros, relações sexuais com Samantha. Isso chega a ser doentio, levantando para nós até questionamentos filosóficos do tipo: até onde a tecnologia pode nos levar? De certa forma, somos apaixonados, neste século, pelos nossos telefones inteligentes ou, se preferir, smartphones, além de tudo o que há de tecnologia moderna. Aparelhos tecnológicos sempre estão conosco, assim como o SO da ficção de Spike Jonze sempre estava próximo do escritor de cartas. Essa proximidade, juntamente com o fracasso no relacionamento passado do melancólico protagonista, leva ao amor entre um homem e uma máquina. Na sociedade fictícia, isso ainda era um tabu, ponto abordado muitas vezes no longa.

O Lagosta também não deixa de se aproximar bastante da nossa realidade. Nunca percebeu que há uma espécie de ‘força social’ que te empurra para ter relações com alguém? Namorar, casar e ter amigos é quase uma regra da sociedade para todos. É como se só se pudesse atingir a felicidade com tudo isso. E, no drama do Yorgos Lanthimos, isso é muito bem abordado, tendo em vista que quem está solteiro é logo colocado em um hotel para procurar um parceiro sexual. E, caso falhe, será penalizado com a transformação em um animal. No início, David apresenta dificuldades para conseguir se engajar em um relacionamento. Até que consegue um dentro da hospedaria. No entanto, essa relação é muito bizarra e violenta para ele, tendo em vista que sua parceira mata o irmão dele. No desenrolar do filme, ele acaba na Floresta, onde há um grupo rebelde que, ao contrário do restante da sociedade, proíbe intensamente as relações conjugais. E é aí que o nosso protagonista apaixona-se. Fazendo um paralelo com nossa civilização, pode-se perceber uma certa polarização: sendo contrário a uma conduta, automaticamente você aprova a outra. Isso acontece muito na política, apesar das inúmeras possibilidades de opiniões e condutas na área.

As relações tratadas, tanto a de Theodore, quanto a de David, são proibidas pelo meio social em que se encontram. No mundo do século XXI, também há muitas formas de relacionamentos que são proibidas, como os homossexuais no país do Oriente Médio Iêmen. Lá relações desse tipo são punidas com a pena de morte. Na trama de O Lagosta, qualquer relação no grupo rebelde também tinha uma punição física, como tornar a pessoa cega ou cortar os lábios dos cônjuges apaixonados. Em Her, a proibição é apenas subjetiva, nada legislativo e nem que leve a tão graves consequências a ponto de perder um dos cinco sentidos.

Portanto, ambos os filmes são bastante modernos e nos levam à profundas reflexões sobre nossas relações. Neste século, os nossos relacionamentos estão cada vez mais complicados e conturbados, seja pela tecnologia ou pelo meio social que está constantemente nos julgando e nos forçando a fazer que não queremos. Seja se identificando mais com Theodore ou com David, certamente, você se identificará, pelo menos, com um pouco dos dois se assistir ambas as longas metragens.
Obrigado por ler até aqui, até a próxima e fique com um beijo do magro ;)

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