segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Sobre um sentimento bucólico

Dica para uma leitura mais interessante: colocar para tocar baixinho La Belle de Jour, Alceu Valença (aperta no loop ;)


Eu me vestia, notando cada detalhe pensando nele. Ele, do outro lado do mundo, vestia-se como quem não quer nada. Afinal, ele, de fato, não quer nada. E é assim que começa qualquer paixão: como quem não quer nada. Ninguém se apaixona querendo alguma coisa, a gente só se apaixona e, depois de apaixonado, queremos muitas coisas ao lado do que julgamos 'amor da nossa vida'. Amor esse não previsto na agenda da semana, do mês, nem do ano.


Quando o coração bate mais forte, quando a mundo volta a ser colorido, quando a vida passa a ser vida é quando se apaixona. E o mais belo de tudo isso: não há planos. Você planeja tudo na sua vida: carreira, o próximo final de semana, a semana, o ano, o semestre, as próximas horas, tudo muito bem planejado, menos aquela paixão que apareceu há algumas horas. E, quando menos se percebe, lá está você, todo bobo e apaixonado, vestindo-se para o encontro com o crush supremo como quem se veste para o momento mais importante da sua vida. Talvez, a decadência do ser humano seja suas paixões. Ora, são elas que tornam qualquer um anencéfalo. Talvez.

Tirei daqui
Foi sem querer, ou por amor, que, em um momento da minha vida, eu estava no meu quarto, completamente anencéfalo. Vestindo-me como quem se veste para o momento mais importante da sua vida. Vestia a calça, a camisa e o tênis, pensando no que ele pensaria se eu vestisse x ou y. Nunca me senti tão Clarice Falcão cantando Macaé. Mas será que ele fugiria para o Japão se eu falasse para ele que eu stalkiei ele em todas as redes sociais? Será que ele vai me aturar quando eu não tiver mais assunto e só falar de amor?

E é assim, sem querer, que começamos nossa vida e nossas paixões. Nem você nem eu escolhemos nascer, nós só nascemos. Nem você nem eu escolhemos apaixonar-se, só ficamos apaixonados. E ainda bem que ficamos apaixonados e que temos problemas nas nossas vidas, já imaginou se não houvesse dificuldades? Seria chato por demais, não? Talvez, o mais importante do amor não é o amor por si próprio e sim o caminho que uma paixão trilha até se tornar amor. Talvez, o mais importante sejam os dias, os meses e os anos que você ainda vai passar com aquela pessoa. Esteja ela do outro lado do mundo, esteja ela a alguns quilômetros, o mais importante é a conexão que se cria, que não importa distância, nem dificuldades, nem tempo, apenas os sentimentos. 

Apaixonar-se, enfim, é colorir o que antes não tinha cor, o que antes era frio, sem sentimentos, nem emoções. Apaixonar-se é, antes de tudo, entregar-se ao outro como quem se entrega a vida. Apaixonar-se é viver como se não houvesse amanhã. Apaixonar-se é sentir aquele sentimento bucólico que faz dias serem minutos e anos, horas. Apaixonar-se, simplesmente, é. A paixão simplesmente chega e se impõe. Não há escolhas. E é sem escolher e sem querer que a vida se torna vida, que o dia se torna dia, que a paixão se torna amor.



Meus comentários:
Esse papo de paixão e amor me deixou com algumas borboletas na barriga...
Obrigado por me aturar até aqui e até o próximo texto (espero que não tenha borboletas na minha barriga na próxima semana)   :)

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